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terça-feira, abril 04, 2006

Burocracia

Jogador burocrático é horrível. Time burocrático, pior. E campeonato burocrático é o inferno.

Na burocracia radica a maior parte meus ódios futebolísticos. E porque o assunto é muito vasto, e citei campeonatos, fico nisso. Se campeonatos fossem capazes de definirem o melhor time, eu teria algum respeito por eles. Mas demonstra a experiência que não seja o caso. Pra que então lhes atribuir tanta importância?

A resposta é longa, chata, e portanto passo, atenho-me a um aspecto. Sempre falam em melhorar a média de público, e conjecturam-se vários esquemas os mais mirabolantes. Na principal motivação possível, não tocam: a qualidade do espetáculo.

Pra alguém como eu, que gosta de bom futebol, o Brasileirão de pontos corridos é uma monstruosidade estética.

Convenhamos: desde que o futebol foi criado, não se há registro de um país com mais de quatro times que jogassem bola de verdade numa mesma temporada. Significa dizer que num campeonato brasileiro de 20 times, ida e volta, apenas 12 jogos têm chance de prestar. Envolverão equipes razoavelmente dispostas e capazes de jogar futebol.

Os outros 368, pode jogar no lixo. A maioria, aliás, melhor enterrar pra não feder, que será entre 16 ou mais clubes que sem noção de coisa nenhuma.

380 jogos, para que apenas uma meia dúzia valha alguma coisa. Repito: é uma monstruosidade estética. E que ocupa um espaço enorme no calendário, como se fosse muito importante -- mas geralmente sequer define o melhor time. Sobrecarrega os atletas, impede excursões com jogos talvez mais interessantes etc etc.

Ora, pois eu prefiro um mata-mata entre os quatro times do Brasil que joguem alguma bola, a este Brasileirão por aí. Muito melhor, e muito mais rentável. Pode ter até dois por ano. E uma taça brasil só pra fazer uma graça, enxuta, pra nos certificarmos de que haja ou não algo de novo no front -- isso basta. Uma copinha estadual pra não perder o hábito.

Mais uma vez: citei o principal campeonato do país apenas como exemplo, e muito en passant: a burocracia é um fértil terreno para a ruína.

A Copa do Mundo mesmo seria outro exemplo: quantas partidas se imaginou que seriam jogões na última vez? Pouquíssimas, quatro talvez. Não foi só o número de seleções ruins que aumentaram: diminuíram a probabilidade de bons encontros na primeira fase. Este ano haverá quantos? Hum: Argentina vs. Holanda. Foi-se o tempo, como em 58, em que um grupo era formado por Brasil, União Soviética, Inglaterra e Áustria (3ª. colocada do torneio anterior). Nunca mais, cacarejou o papagaio, nunca mais.

Não seria melhor, por exemplo, que o escrete realizasse 1 grande jogo a cada 2 meses, em vez de se tornar um rascunho por 47, a fim de, com sorte, jogar duas ou três partidas interessantes ao final disso? Pois é.

Poucos jogos bons são preferíveis a muitos jogos ruins. E muitos jogos bons, melhor. Bidu. Depois a surpresa de que nos últimos tantos anos, contem-se nos dedos as boas partidas da seleção...

E uma última nota: a epifania que é a consagração de craques após uns poucos bons jogos ilustra o que digo. Mas isso é tudo que falarei sobre o assunto, que, de outra forma, se tornaria infindável. Menas burocracia.