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domingo, dezembro 24, 2006

O Fantasma do Natal Passado

Num tempo de violência e showball gratuitos, vale lembrar o verdadeiro amistoso, entre inimigos de verdade, perdidos numa terra de ninguém. A trégua das efemérides do final de 1914, o último gesto de cavalheirismo daquela que é a atividade humana por excelência -- a guerra. Depois veio a burocracia de Genebra, e com seus loopholes tudo foi pelos ares.

Mas estávamos em 1914. Entrincheirados, separados às vezes por menos de 30 metros ao longo do front, os bebedores de chá e os comedores de chucrutes interromperam suas atividades na véspera de Natal. E por meio de enfeites dispostos nas árvores e alguns cânticos, chegaram tacitamente a um acordo: trégua.

Às felicitações seguiram-se a trocas de presentes, de cigarros, o enterro dos mortos... e uma pelada. Um inglês, certamente bigodudo e com botas e colarinho impecáveis, arranjou uma pelota, e propôs o rachão. Quem foi o juiz, jamais saberemos, mas é de se imaginar que provocações indevidas e carrinho por trás estivessem fora de questão.

Para surpresa britânica, os alemães os suplantaram com um expressivo 3 a 2. Mas o Times de Londres justificou a derrota de seu escrete improvisado: "é que a bola pegou no arame farpado, o jogo não terminou de verdade..."